História da Minha Vida

História da Minha Vida

     Meu pai, vivido e criado na bela Alfama ao pé do Miradouro de Santa Luzia, jogava ao berlinde e ao peão, como os meninos daquela altura. Minha mãe, vivia na Rua da Verónica, ao bairro da Graça. Filha de costureira de alfaiate, bonecas de pano eram a sua companhia, enquanto frente ao espelho, sonhava um dia pisar um palco, e quem sabe até fazer revista. Os dois se conheceram, apaixonaram e casaram.
Estávamos no ano de 1970, eram 12h45 da manhã. Na maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, nasceu um rapaz muito comprido (55 cm), com 2,700 Kg. Seus pais, Maria Elizabete Pires e Alexandre Pires resolveram chamar-lhe Helder.




                                                                        
                                   

                                 
                                 


                       



                   Assim começou a História da Minha Vida.
                                                                                                         
Vivia numa casa em Lisboa, juntamente com os meus pais, avó e irmã. Levei uma infância pode-se chamar normal, apesar dos inúmeras vezes em que me encontrei doente! Uma das recordações que guardo com muita estima, foi estarmos todos na cozinha, de haver grande agitação e algum receio por algo de grave que se estava a passar, não compreendendo naquela altura, derivado á idade que tinha, mal sabia que a revolução dos cravos tinha chegado, era o 25 de Abril! Muita tropa se viu na rua nesses dias, influenciado por esse ambiente, decidi que queria seguir a carreira militar.
A família aumentou com a vinda de mais duas irmãs. Meus pais, sempre em busca do melhor para nós compraram uma casa e fomos viver para Queluz. Tempos difíceis vieram, pois continuei por mais um ano na escola em Lisboa, que me obrigava a levantar muito cedo. Por fim, ficamos a estudar ao pé de onde vivíamos, coisa que durou pouco. Viemos de malas e bagagem novamente para casa da minha avó! Mais uma mudança de escola agora na 4ª classe. Não era fácil constantemente mudar de professora, colegas e a fazer novas amizades!
    O colégio militar foi o próximo passo. O ser militar não me saia da cabeça e fui fazer os exames de admissão. Infelizmente não correram bem e não atingi as médias para entrar. Seguiu-se o 5º e 6º ano numa escola particular, regressando ao oficial a partir do 7º. O interesse por estudar foi diminuindo e no verão de 83 fui trabalhar nas férias para o ramo de hotelaria. Aprendi a servir às mesas, ao
balcão, tirar cafés, um enumerado de coisas novas para mim que fazia com gosto.
    Voltando a estudar e tendo chumbado, resolvi passar a se trabalhador /estudante (estudar de noite e trabalhar de dia). A procura de emprego foi breve, admitido como Paquete num escritório de contabilidade era um novo desafio! O trabalho era quase todo na rua. Entregava documentos nos bairros fiscais, ia a bancos, fazia pagamentos, recebimentos e quando havia tempo ainda ajudava no escritório redigindo à máquina cartas para os clientes. Ao fim de 18 meses, não sendo possível subir na empresa, resolvi mudar de emprego.
     Fui então trabalhar para uma empresa importadora dos artigos da Lacoste. O local de trabalho era num armazém em que tinha como função, desde conferir todo o material que vinha da alfândega, arruma-lo nas diversas prateleiras separado por referências, cores e tamanhos. Manter o inventário actualizado. Receber as notas de encomenda dos vendedores. Separar a mercadoria e embalar para ser entregue nas lojas. E quando era necessário, ainda saia na carrinha para distribuição.
Estávamos agora em 1988. Meu pai, juntamente com alguns sócios, abriu uma loja de electrodomésticos. Fui convidado a colaborar com eles. Era algo por qual me interessava, lidar com os diversos aparelhos, especialmente a parte de som e imagem, fazer as suas ligações e saber a sua funcionalidade. Fazia ainda a exposição do salão de vendas. Enfim, gostava do meu trabalho. Infelizmente as coisas não correram bem entre eles e acabei por ficar desempregado.
    Visto não ser meu feitio estar parado, procurei no jornal e fui dar serventia a pedreiro. Bem diferente do que já tinha feito até ali, logo me integrei e fui aprendendo mais um ofício. Comecei por fazer massa, acartar tijolos, cimento, areia, passando mais tarde a responsável pela casa das ferramentas, onde controlava todo o inventário. Mantinha-me atento ao trabalho dos pedreiros e logo me deram oportunidade de aprender. Desde rebocar paredes, assentar tijolo, colocar ladrilho no chão, azulejos nas paredes, depressa cheguei a oficial de 1ª.
Nesta altura, tentava dividir-me entre o trabalho, o namoro e o desporto. Grupo Desportivo da Penha, assim se chamava o clube onde na posição de guarda-redes fazia parte da equipa de futebol.
Chega a altura do serviço militar. Regimento de Engenharia Nº1 na Estrada da Pontinha. G.A.M. (Ginástica de aplicação militar) consiste na realização de pistas de obstáculos, que variam ao longo da recruta. Mesmo assim não foi tão duro como a semana de campo. Fizemos 20 km a pé carregados com todo o equipamento. Da pontinha á Lagoa Azul. Chegados ao local ainda montamos as tenda e preparámo-nos para uma noite longa. Tivemos que fazer a pista de combate que consiste em rastejar ao longo de um percurso cheio de água sem luz, passando por dentro de inúmeros objectos. Os oficiais, espalhados ao longo da margem, vão disparando rajadas de metralhadora com pólvora seca, enquanto ambulâncias circulam com nas sirenes ligadas para dar realismo ao exercício.












  



 Sai ao fim de três meses, visto ser asmático. Ainda cumpri oento de bandeira, cerimonia que assinala o fim da recruta. Gostei muito desta experiencia, aprendemos a ser unidos e a ajudarmo-nos mutuamente.
Saindo da tropa outro passo na vida resolvi dar. Trabalhar como segurança no hipermercado da Amadora e ir viver sozinho. Aluguei um pequeno anexo de uma assoalhada, no Algueirão. Cozinhar e fazer a lida da casa não era problema, visto ter sido ensinado a fazer de tudo. No trabalho no meio de tantos funcionários, vim a conhecer a mãe do meu filho. Natural da aldeia do Pereiro perto da cidade de Pinhel, no meio de montes e vales, onde a agricultura predominava, Filomena veio a tornar-se minha mulher. Conheci das mais belas terras por onde passei.



Vila de Almeida, rodeada pelas suas magnificas muralhas e os seus imponentes canhões.















Com o sua fortificação parecendo uma estrela com doze pontas, quando vista aérea. Esse sistema de fortificação chama-se abaluartado.

”O sistema abaluartado francês apareceu no no final do século XVI. Os primeiros engenheiros franceses, no reinado de Luís XIV, foram Errad de Bar-Le-Luc e Antoine Deville, que desenvolveram um sistema de fortificação usando a muralha da praça como elemento fundamental de ataque e defesa. A praça-forte de Almeida tem actualmente a forma de hexágono quase regula, composto de seis baluartes e seis revelins. Todos os baluartes e revelins eram guarnecidos de canhoneiras, plataformas, cavaleiros e travesses. As muralhas são de cantaria e cercadas de fossos que na época tal como agora não existia água. Os fossos têm uma altura média de 12 metros e largura variável de 10 a 62 metros. Na praça eram distribuídos canhões nos balaustes e nos revelins em níveis diferenciados para melhor potência e precisão de fogo. Assim, podemos concluir que as muralhas actuais de Almeida tiveram a sua construção em 1641 e o seu estilo obedece ao traçado de Antoine Deville.”

Fonte: http://almeidahistorica.com.sapo.pt/asmuralhasdealmeida.htm













  

















    Outra vila que me encanta, é a de Castelo Rodrigo. Aldeia medieval, oferece uma esplêndida vista sobre os campos. Ao entardecer, Castelo Rodrigo, visto topo da serra da Marofa é uma povoação muito bela, situada num monte destacado, com a cerca defensiva com as suas torres circulares a reflectirem tons doirados, vermelhos, castanhos e amarelos.
     Conta a história, que o brasão desta Vila se encontra invertido por ordem do Rei D. João.
“Castelo Rodrigo conserva as marcas de alguns episódios de disputa territorial. O primeiro deu-se menos de cem anos após a sua integração em Portugal, durante a crise dinástica de 1383-1385. D. Beatriz, única filha de D. Fernando de Portugal estava casada com o rei de Castela. Por morte de seu pai, e com a sua subida ao trono, Portugal perderia a sua independência a favor de Castela. Castelo Rodrigo tomou partido por D. Beatriz, mas D. João, Mestre de Avis veio a vencer os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, em 1385 e por esse feito foi coroado rei de Portugal com o nome de D. João I. Como represália pelos senhores de Castelo Rodrigo terem tomado o partido por Castela, o novo rei ordenou que o escudo e as armas de Portugal fossem representados em posição invertida no seu brasão de armas.”

Fonte: http://www.milouskablog.com/2009/02/aldeias-historicas-de-portugal-3.html

   Como nunca estou satisfeito e procuro sempre mais, lancei-me na Decoração de interiores com a minha mãe. Ela já exercia essa profissão há muito tempo e assim resolvemos abrir uma loja ao público. Vendíamos desde peças decorativas, a tecidos a metro, à sua confecção. Efectuávamos pequenos trabalhos de construção civil, sector a meu cargo, tanto a sua execução como o elaborar os orçamentos. Ao fim de um ano o trabalho fraquejou e lá voltei à indústria hoteleira. A sorte não quis nada comigo, pois fracturei um pé e depois de uma longa paragem, vi-me novamente desempregado.





   Mas nem tudo corre mal, estamos no ano de 1997 e no dia 24 Março nasce o meu filho. Não há maior alegria que esta. Ricardo Alexandre Madeira Pires, nasceu no hospital de Santa Maria, em Lisboa. Agora a vida tem outro significado.

  A vida segue, e desta vez fui trabalhar para um escritório de advogados. Andava novamente na rua como paquete. O dinheiro não abundava e arranjei um part-time no Hotel Alfa, na secção de banquetes. Decorar mesas com os seus enormes tabuleiros com as frutas, carnes frias e legumes. A decoração novamente presente na vida, aliada à industria hoteleira. O gosto por este trabalho recreativo era tanto, que resolvi dedicar-me a tempo inteiro. A época do natal era a que havia mais trabalho, as empresas faziam os seus almoços e jantares de funcionários, mas essa altura acabou e com ele a necessidade dos meus serviços.
   Surgiu um convite para voltar às obras, neste caso algo mais simples como forrar paredes de uma enfermaria a “pladeur”. Essa enfermaria era numa produtora de televisão Comunicasom que possuía cantina, para onde passei findo as obras. Ao fim de um ano, depois de um desentendimento, sai vindo a regressar dois meses depois através da empresa que tratava da figuração Companhia da Gente como Crowd (pessoa que controla as entradas e saídas da figuração, assim como a sua presença). Este trabalho permitia-me ter tempo livre durante os programas, que ocupava ajudando no trabalho de “plateau”. Colocar adereços, instrumentos musicais, ajudar os operadores de câmara segurando nos cabos, etc. Tentava ocupar o meu tempo.
   Chegamos a Setembro de 2002, numa noite de Domingo, em que estava a exercer o meu direito ao descanso, recebo um telefonema era o director técnico Francisco Sousa:


H- Tou!
F- Boa noite.
H- Boa noite?!
F- Daqui fala o Xico.
H- Há sim?!
F- Tenho pessoal de férias, não te importas de fazer de assistente de realização amanhã?
H- Não, não me importo.
F- Ok, amanhã fazes tu.















    






Não queria acreditar, que ia ser assistente de realização. Fiquei muito nervoso com a notícia, mas se acreditavam nas minhas capacidades, também eu tinha de acreditar. O dia correu muito bem. Não houve problemas no programa, tendo cumprido a minha parte. Esta experiencia repetiu-se mais algumas vezes mais, até à altura em que todos regressaram de férias.




  









   Chegámos ao ano seguinte, e como só tínhamos o programa da manhã (SIC 10Horas), arrancamos com outro à tarde (Às Duas por Três). Para meu agrado os meus serviços foram requisitados, a fim de fazer o SIC. Juntei os dois trabalhos, assistente e Crowd.



   
















Na parte sentimental as coisas estavam a correr mal. A situação com a minha mulher era complicada e também não estava a dar a devida assistência ao meu filho. Por isto tudo resolvi separar-me. Foi muito difícil estar sem o Ricardo. Voltar a viver sozinho, chegar a casa e não o ver, era tarefa muito dura. Determinado, avancei para este recomeço. Uns meses mais tarde, acabo por conhecer Marisa, que fazia parte da figuração. Depois de muita conversa e de troca de olhares, a paixão chegou e começamos a namorar.




A nossa diferença de idades (14 anos), ter um filho e ser separado, não ajudou no começo da nossa relação. Dificuldades que com o tempo e muito Amor foram vencidas. Grande ajuda foi o facto de o meu filho gostar muito dela e darem-se muito bem, visto que até eles têm a mesma diferença idades. O nosso Amor foi crescendo. Aproveitámos um fim-de-semana e fomos até à Serra da Estrela. Em Novembro, o frio era muito. Fizemos a viajem toda de noite até chegarmos ao Sabugo. Depois de uma boa noite de sono, dentro de uns lençóis bem quentinhos, partimos à descoberta do cume da serra. Era a primeira vez que visitávamos este lindo local. Na parte profissional passei a fazer os dois programas ficando encarregue desse sector, visto os meus outros colegas terem saída da empresa. Foram vários os programas especiais que fizemos no interior e exterior, “O Desfile dos Pais Natal”, “11 Anos da SIC”,“Especial no Castelo São Jorge”, “Está na SIC o Mundial”, etc.


O tempo passou e praticamente já vivia junto com a Marisa.
Os anos foram passando e chegámos ao ano de 2007. Estávamos em Setembro quando tive a minha primeira experiencia de voar. Fomos de férias à Tunísia. Tivemos a sorte de apanhar um excelente tempo, podendo desfrutar ao máximo deste admirável pais. Ficámos hospedados em Monastir. Visitámos a mesquita em Sousse, o Lago Salgado de Chott el Djerid, o deserto perto da vila de Douz e o Coliseu em El Jem. Foram umas belíssimas férias, peno tenho de não ter aproveitado mais se soubesse a partida que a vida me iria pregar.











  O dia 14 de Dezembro deste ano, veio mudar por completo a nossa vida. Saíra de casa como de costume de mota com a minha mulher, por volta das sete e um quarto da manhã. Na altura a residia-mos em São Marcos-Cacém. O percurso como sempre era entrar na A5 em Oeiras e seguir até Lisboa. Passando a portagem, e derivado ao trânsito que se faz sentir a essa hora, circulava entre os carros e os separadores, ou seja na berma.
   Um condutor(a) para se desviar de outro, atravessou o carro na nossa frente, ao travar a mota bloqueou e derrapou para o lado, projectando-me contra o rail da auto-estrada. Embati com as costas ficando de imediato sem me conseguir mexer. Minha mulher, que foi de rojo alguns metros, depressa se acercou para saber o meu estado físico. A confusão era muita, as pessoas saíam dos carros para vir acudir. Marisa, gritava por ajuda, quando foi informada que já haviam chamado o 112. Começou-me a faltar o ar, não conseguia
respirar, sentia-me a desvanecer. Chamei a minha mulher e pensando que iria morrer, pedi-lhe para dar um recado ao Ricardo: “Diz ao meu filho que o amo muito”. Dito isto, apaguei-me. Recuperei os sentidos já estava na ambulância, coisa que durou pouco tempo pois voltei desmaiar. Na chegada ao hospital São Francisco de Xavier, houve colegas que dizem que falaram comigo, algo que não me lembro assim como muita coisa que se passou dali para a frente. Sei que os médicos me foram visitando, assim como alguns familiares, mas não tenho noção em que altura me disseram que estava paraplégico. No dia seguinte fui transferido para o hospital Egas Moniz.
   O passo seguinte era ser operado. A ideia era colocar dois ferros para estabilizar a coluna, visto ter esmagado a vértebra D3.
   A coisa complicou-se. Já com a operação marcada, enchi-me de febre e teve de ser adiada. Não era muito grave se não tivesse durado 75 dias, ou seja: as operações eram à quinta-feira, quando chegava a terça aparecia a febre que só ia embora por volta de sábado. Infecções urinárias, justificavam os médicos e as enfermeiras.
   Tempos muito complicados. Deitado numa cama sem poder levantar sequer a cabeceira para ficar mais sentado. Febres que me faziam tremer com frio, aos calores que vinham quando descia. Passar o natal e fim de ano no hospital, longe de casa, da família, era muito, muito duro. Minha mulher, ficava a meu lado de manhã à noite. 

  Nessa altura, de noite, em que estava sozinho, sofria em silencio a angustia porque estava a passar. A nossa revolta, aliada à infindável pergunta: Porquê eu? Porquê a mim? Pergunta que ninguém tem resposta. Ficamos sem saber se é castigo ou uma cruz que temos de carregar. Desejei muita vez que tudo acaba-se logo, que não valia a pena cá estar, mas por um filho como tenho e por uma mulher assim, tudo vale a pena.

   Meus amigos e colegas de trabalho, juntamente com a minha família, todos os dias me visitavam. Momentos em que voltava a sentir-me vivo. Estávamos em 4 Março de 2008, passaram-se 75 dias e os médicos deliberaram que já não valia a pena operar. Os ossos tinham acabado por se calcificar, por isso já me iria levantar. 

 Que noticia, finalmente me poderia erguer na cama e até sair dela. Poder comer sentado, receber os amigos na cadeira que alegria. Foi difícil o organismo voltar a habituar-se a estas posições. Todo contente, estriei um pijama novo. Queria estar impecável para receber as visitas. 
Depressa me deram alta no hospital, disseram que era o melhora para mim, a fim de evitar as infecções. A casa tinha de sofrer muitas alterações para ficar adaptada para mim, então resolvemos mudar para um r/c visto esta ser no 8º andar.
   Agora tinha começado outra guerra, a companhia de seguros. Como ia a caminho do trabalho foi considerado acidente de trabalho. Tinha conhecimento de uma operação que um médico fazia a nível particular, conjuntamente com uma fisioterapia específica que poderia trazer alguns resultados.



    A ordem era ir para o Centro de Reabilitação de Alcoitão. Fui para casa, comecei os preparativos para mais tarde ser operado. Entretanto ia visitar os meus colegas no trabalho, adaptei o meu carro, tentava retomar dentro do possível a normalidade. Tudo interrompido para a estadia em Alcoitão. Bastante rápida, pois a médica concordou ao fim de 20 dias, que realmente eu precisava de estar em casa, estar com a minha família, a minha mulher, o meu filho, os meus amigos, precisava de voltar a viver.
    De volta ao meu lar, fui regressando ao trabalho, não para fazer o mesmo que fazia mas para concretizar um sonho que tinha a algum tempo: Realizar. Iniciei o curso de formação dado pelo meu director técnico e amigo Francisco Sousa. Quando menos esperava, passou-me os “comandos” para as mãos e lá fui eu de programa em programa, ganhando ritmo e competências.



   Interrompi para ser operado em Novembro do mesmo ano, voltando ao activo em Dezembro. Durante todo o tempo continuei a fazer fisioterapia.
   Marisa que trabalhava no infantário da mesma empresa, também regressou ao trabalho. Devo dizer que enquanto internado, eu e a minha mulher recebemos sempre o ordenado mesmo sem trabalhar. Chegámos a Junho, o contrato da produtora com a SIC acabou e fomos ambos dispensados. Situação complicada, pois estávamos os dois a recibos verdes sem direito a fundo de desemprego.
   Tivemos que mudar de vida, fomos de malas e bagagem para casa dos meus sogros. Fizemos da sala o nosso quarto e guardámos o resto das nossas coisas. Fiquei muito abalado com a situação. 

   Foi como se perdesse a minha identidade. Depois de ter perdido tanto, perdia agora a minha casa, a minha privacidade, a minha independência e tinha perdido o meu emprego, ao qual me tinha agarrado de corpo e alma como “remédio” para a minha reabilitação.

Derivado às dificuldades financeiras, fiscalmente era-nos vantajoso casar e assim o fizemos. Uma recompensa justa para a Marisa. Tem sido mulher, amiga, enfermeira, companheira. Tenho a certeza que não poderia encontrar melhor. Só espero que um dia possa ser também a mãe dos meus filhos.


   Como nem mesmo agarrado a quatro rodas, sou de estar quieto, inscrevi-me no Centro de Emprego, na esperança que arranje alguma coisa para trabalhar. Enquanto isso, vou aproveitando para estudar. Fazer o 9º ano por agora e quem sabe mais tarde o 12º. Devo dizer que calhei com um grupo fantástico e estou muito satisfeito com os resultados.

   A vida ainda me pode pregar muitas “partidas”, espero ter forças para enfrentar as batalhas que ainda se avizinham. Mas duma coisa tenho a certeza, com a mulher, filho, família que tenho de certeza que vencerei.

A vida, só é vida, quando envolvida, na vida, de outra vida…